Quando a união vira obstáculo: Milei está disposto a romper com o Mercosul para buscar novos horizontes econômicos.
Durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, Javier Milei, presidente da Argentina, balançou as estruturas do Mercosul ao sinalizar que, se necessário, seu país deixaria o bloco econômico para priorizar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. A declaração, feita em entrevista à Bloomberg, ecoou nos corredores do evento e gerou fortes repercussões entre os líderes regionais.
Embora Milei tenha ressaltado que sua intenção inicial é evitar medidas drásticas, ele deixou claro que a busca por benefícios econômicos para a Argentina está acima da permanência no bloco. “Existem mecanismos que permitem avançar dentro do Mercosul, mas, se não for possível, tomaremos as medidas necessárias”, afirmou.
Um histórico de tensões com o Mercosul
Desde sua posse, em dezembro de 2023, Milei tem adotado uma postura crítica em relação ao Mercosul. Em julho, ele sequer participou da cúpula em Assunção, no Paraguai, enviando sua chanceler, Diana Mondino, enquanto ele próprio comparecia a um evento conservador no Brasil, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O episódio foi visto como um sinal de desprezo pelo bloco e rendeu críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que declarou: “Quem perde é quem não veio.”
Em dezembro, Milei compareceu à cúpula em Montevidéu, mas usou a ocasião para disparar críticas à Tarifa Externa Comum (TEC), que, segundo ele, prejudica a economia argentina ao encarecer produtos locais e limitar rotas comerciais. “O Mercosul se tornou uma prisão para os seus membros. Precisamos de uma nova fórmula”, afirmou.
O interesse nos EUA e a conexão com Trump
A proposta de um acordo de livre comércio com os EUA é vista como uma alternativa estratégica para a Argentina, especialmente após as reformas fiscais implementadas por Milei. Apesar de ter conseguido reduzir a inflação e alcançar superávit primário, o presidente sabe que o setor externo da economia ainda precisa de fôlego para sustentar o crescimento.
A recente posse de Donald Trump na presidência dos EUA pode ser um fator crucial para essa aproximação. Trump é conhecido por priorizar acordos bilaterais em detrimento de blocos regionais, o que alinha sua visão à de Milei. Essa sintonia ideológica pode facilitar negociações, mas uma eventual saída do Mercosul traria desafios significativos, tanto no âmbito diplomático quanto econômico.
Repercussões em Davos
No Fórum Econômico Mundial, as declarações de Milei foram tema de intensos debates entre economistas e líderes políticos. Para alguns, sua postura é um reflexo da necessidade de modernizar o Mercosul e torná-lo mais dinâmico. Para outros, é um risco que pode enfraquecer ainda mais a integração regional.
Enquanto isso, Donald Trump também foi uma figura central no evento, mesmo de forma indireta. Muitos participantes apostam que a proximidade entre Trump e Milei pode redesenhar o cenário econômico da América Latina nos próximos anos.