Entre promessas e panelinhas: dá pra sonhar com justiça num Brasil tão dividido?

Sabe aquela história de que todos têm os mesmos direitos e deveres? Na prática, soa mais como propaganda institucional do que como algo que realmente se vive no dia a dia. Falar de justiça social no Brasil é quase como discutir o fim da fome numa mesa de jantar farta – só quem nunca sentiu falta acha que já tá tudo certo.

Enquanto a gente se divide em brigas ideológicas, memes políticos e tretas de rede social, uma parte bem pequena da sociedade continua decidindo tudo – e quase sempre em benefício próprio. Não é exagero. Basta olhar ao redor: amigos em cargos-chave, famílias inteiras nomeadas em gabinetes, e decisões importantes sendo tomadas por quem pouco ou nada entende da realidade da maioria.

E o mais curioso? A maioria muitas vezes aplaude. Por ingenuidade, por desinformação ou porque simplesmente perdeu a esperança de que algo possa realmente mudar.

A política virou palco. Cada novo governante entra em cena com um figurino diferente, mas o roteiro é o mesmo. Prometem “renovar”, “modernizar”, “acabar com os privilégios”. Mas, no fundo, a estrutura se mantém: a do compadrio, da autoproteção, do “um faz que faz, o outro finge que acredita”.

Quantas vezes você já viu o discurso do “bem comum” ser usado como justificativa pra um monte de ações duvidosas? Criam-se narrativas que mascaram decisões tomadas nos bastidores, com base em interesses de grupos bem restritos. O público até assiste ao espetáculo, mas raramente participa de verdade da história.

E tem mais: a tal “continuidade de projetos” que muitos usam como argumento pra se manter no poder eternamente, muitas vezes só perpetua erros. As promessas se repetem a cada quatro anos, os slogans mudam, mas os buracos nas ruas continuam lá – e não só os de asfalto, mas os buracos na saúde, na educação, na confiança.

Enquanto isso, quem realmente precisa de políticas públicas eficazes segue sendo deixado de lado. A justiça social no Brasil vira apenas um item bonito no discurso de campanha. Na prática, ela é travada por interesses pessoais, trocas de favores, acordos silenciosos que passam longe daquilo que a maioria espera de quem foi eleito.

E o individualismo só piora isso tudo. A lógica do “cada um por si” acabou invadindo até a forma como a gente olha pra política. A empatia perdeu espaço pro “se eu tô bem, o resto que se vire”. E é aí que o sistema ganha força: quanto mais isolados estivermos, menos força temos pra exigir mudanças reais.

Mas não dá pra jogar tudo no colo dos governantes. Existe uma parcela da responsabilidade que também é nossa. A gente precisa parar de agir como se escolher “o menos pior” fosse o bastante. Precisamos aprender a cobrar, a questionar, a participar.

Não adianta esperar por um herói ou salvador da pátria. O que muda o jogo é pressão popular, é voz ativa, é gente consciente ocupando espaço – nas urnas, nos conselhos, nas ruas e nas redes.

É claro que pensar em um país mais justo pode parecer utópico em tempos tão polarizados. Mas talvez a utopia não esteja na ideia em si, e sim na forma como a gente tem encarado a política: como algo distante, sujo ou inalcançável.

A grande pergunta que fica é: até quando vamos aceitar isso tudo como “normal”? Até quando vamos deixar que a desigualdade seja tratada como algo inevitável?

A justiça social não vai cair do céu. E enquanto a gente continuar mais preocupado com o time político do que com o placar da vida real, quem vai seguir ganhando são os mesmos de sempre.